sábado, junho 30, 2007

Sua Excelência o Narciso... anda por aí!

Madre Teresa a anti-narcisos...


Ele anda por aí! Amiúde vêmo-lo na TV, ar sorridente, dedos espetados no ar, ar convincente, sorriso largo, gabando-se de forma quase infantil, atribuindo-se méritos e capacidades só ao alcance dos predestinados, qual semi-deus da era moderna.

É vê-lo na assembleia da república, ar pomposo e enfatuado, debitando discursatas gongóricas, é vê-lo nas jantaradas de homenagem que lhe são prodigalizadas por ser dirigente do clube, é vê-lo junto das comunidades de emigrantes aquando da celebração de algum evento, é vê-lo a dar suculentas entrevistas aos jornais desportivos (onde tem lugar sempre cativo), às rádios, às TV's.

Que de majestade, que de imaculada fisionomia, que de linguagem rebuscada cheia de esoterismos e de neologismos plenos de originalidade e de graça!...

É vê-lo também nos púlpitos, arrebatando com uma arenga estudada meticulosamente, as massas ingénuas, subtilmente embasbacadas pela sua litania de Frei Tomás, com odor quase santificado; é vê-lo e ouvi-lo nos cafés, sempre rodeado de súbditos atentos e veneradores, sorrindo forçadamente a todos os seus ditos; é vê-lo a cirandar pelos corredores dos ministérios, com gravatas e perfumes berrantes para contrastarem com o cinzentismo moral, com o negrume do carácter.

Ele anda por aí. Diz-se envolvido por pedidos irrecusáveis para aceitar a tal estátua, o tal busto, a tal pintura na cripta onde se perpetuará "ad infinitum", qual supra-sumo das virtualidades humanas... Coitado, não poderia recusar, seria ofender essas pessoas tão amigas, tão seguidoras do seu trajecto humanistico, tão carentes de amparo espiritual...

É igual a si próprio quando, com falsa humildade, distribui louros e prebendas por outrem, dando a entender que só o faz por... comiseração, por pena do séquito de acríticos e amorfos acólitos que o rodeiam.

É ele também o líder doirado, o integérrimo condutor de almas, o pastor de um redil amorfo e pardacento que cultua a sua imagem com o fervor de um zelote; é o centro do mundo, o sol, a quinta-essência; quanto aos outros, se luzem, é só por estarem sob a sua órbita... É, não raro, imbuído daquela presunção estulta que o faz pavonear qualidades em tudo o que participa; tem-se na conta de figura admirável, paradigma moral por excelência, enfim, dir-se-ia que o país, este pequeno país, este povo ignaro e inculto, não o merecem... ele é doutra estirpe, doutra galáxia! Ademais, é também um incompreendido...

Ele, narciso, não admite erros, falhas, incongruências, hipotéticas contradições.

Repete bastas vezes: "se fosse hoje, faria tudo na mesma, tudo sem alterar uma palha!" dando a entender que o seu trajecto foi delineado no olimpo por deuses tutelares de quem é um sub-produto, uma emanação.

Não sabe conviver com a crítica. Críticas? São tudo disparates pegados de invejosos, de ressabiados, de quixotescos adversários que não chegam aos seus calcanhares, seriam indignos de lhe apertaram os cordões dos sapatos, quanto mais esgrimirem com ele, o douto, o sábio, o dono da verdade... Se calhar queriam o seu lugar, " mas falta-lhes a sua estatura intelectual, o seu cabedal cívico, a sua honorabilidade, a sua credibilidade", desabafa, petulante, entre amigos e confidentes...

Quando atinge algum destaque _ e acontece isso, com desusada frequência neste jardim de ingénuos úteis, à beira-mar plantados... _ ei-lo que se rodeia de "nepos", de "paus-mandados", "criados-para-todo-o-serviço", cultuando a imagem do "caudilho" na mira de poderem abocanhar todas as migalhas que caiam da mesa orçamental. Enfim, fidelidades (e voracidades) caninas; a par de um seguidismo acrítico e acéfalo há um interesseirismo de piranha, um apetite inversamente proporcional aos escrúpulos...

O narciso abomina lugares subalternos; quer sempre a primeira fila, o destaque que dê dividendos mediáticos, o pedestal, o galarim mais parolo...

Ele é bom em tudo (ou melhor, tem-se na conta de o ser..), excepto em... modéstia... E, mesmo quando habilidosamente despe a casaca do egocentrismo(querendo aparentar certa "normalidade"), fá-lo de tal sorte que fique a pairar no espírito de todos certa magnanimidade, certa condescendência, estilo: "até jogo uma sueca lá no café da Guida, ou o dominó no salão do meu bairro"...

Não dá ponto sem nó. Os outros são "vaidosos", ele não, tem autoestima! Os outros são aperaltados, ele não, ele veste bem! A teimosia é para os outros, nele tem o nome de perseverança!

Enfim, D. Narciso pode ser um simples cónego, um presidente de câmara, um deputado, um ministro, um presidente de um clube de futebol, um empresário.

Ele anda por aí!

Quando o virem, lembrem-se deste diagnóstico e ... com ironia, atirem-lhe esta:

__ Então como tem passado, senhor Narciso?! E, como vai a sua esposa, D. Empáfia?!

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