sexta-feira, julho 20, 2007

A sublime confissão-catarse do político arrependido...

NOTA PRÉVIA: Este relato é pura ficção e nada tem a ver com a realidade.

Ele ajoelhou-se diante do confessor, benzeu-se, rezou o acto de contrição; este abriu as hostilidades:

_ Então, que pecados tens, meu filho?
__Olhe padre, tenho cá uma dor no peito... nem sei que lhe diga. Preciso de me abrir e da absolvição como de pão para a boca!
__Desabafa meu filho; o confessionário é um local de catarse, de reconciliação, de libertação da angústia e do stress. Tu, que és psiquiatra, sabes bem que isto é tal e qual o teu divã...
__ Sou psiquiatra mas estou cada vez mais doente, padre. Sinto-me como que um doente bipolar: euforia desmedia e depressão profunda! Alto e... baixo astral!... É deprimente.
__Liberta-te meu filho. Diz lá os pecados mais recentes...
__Olhe, sou demasiado ambicioso. Logo de manhã levanto-me e vou para o ginásio. Sinto uma enorme ânsia de vencer, de ganhar a qualquer preço!
__ Não me digas que tomaste doping?!
__ Não, não tomei, padre. Apunhalei o meu partido! Pensei em mim, e esqueci-me dele... e tanto do que sou lhe devo a ele, meu Deus!...
__Mas... apunhalar o partido ainda não é pecado, que eu saiba!...

__É, é, e muito grande. Com a minha doentia ambição pelo poder, eu afirmei que o partido iria perder na corrida à câmara de Lisboa. E fui mais longe: disse que a culpa seria do líder e não do candidato!
__Digamos que te meteste por caminhos perigosos. A futurologia é o papel divino, não está ao alcance dos mortais. O futuro só a Deus pertence! Mas, até acertaste em cheio!
__ Sim, padre, acertei. Era tão óbvio. As previsões todas apontavam nesse sentido. Eu, no lugar do líder, não faria melhor, confesso-o humildemente. Mas isto foi um pecado de falta de solidariedade, de falta de lealdade, uma vil traição! Foi o pecado da suprema ambição...
__ Queres tu dizer que com a derrota (que intimamente desejavas) só pensavas na tua hipotética ascensão ao cargo de líder! Isso, de facto, é um grande pecado!

__ Isso mesmo, padre! Eu fui longe demais! Fui imprudente. A ambição cegou-me a tal ponto que nem vi as consequências. Fui vítima da minha soberba, da minha ânsia de poder, da minha luxúria político-partidária. Enfim, o meu exacerbado sentido da oportunidade, o meu oportunismo doentio levaram-me a isto!...

__ Enfim, compreendo-te. Mas vejo que estás arrependido e isso já é muito bom. O arrependimento é meio perdão.
__É óbvio que sim, padre. Quero pedir perdão a Deus pelo meu pecado. Quero redimir-me.

__Olha meu filho, vejo que estás sinceramente arrependido. Vai e que Deus te abençoe. Reza como penitência 10 avés-marias e 10 padre-nossos. Olha, deixa também 1.000 euros aí na caixa das esmolas para as despesas do culto. Santa Maria Madalena, a padroeira dos arrependidos, te há-de ajudar no futuro... tenho a certeza.

__Padre, posso pagar com cheque da autarquia?
__Mas que ideia, meu filho?! A autarquia não pecou...

Passados uns tempos e vendo que o cheque não surgiu na caixa das esmolas da paróquia, o confessor dirigiu-se ao conhecido autarca:

__Então, meu filho,. esqueceste-te da penitência?!
__Não padre.Eu paguei.
__Mas não vi lá o teu cheque.
__Paguei com valores "murais"!
__Mas... como assim?!

__Olhe padre, mandei pintar todos os muros dos cemitérios do concelho. Estavam num estado lastimoso!...

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