quinta-feira, janeiro 17, 2008

Três tipos de jornalismo...

O poder político e o poder clerical: a cumplicidade... o «paraninfar» como método de sobrevivência, como regra de conduta, como padrão ético e moral...
Os amigos são para as ocasiões!...



Jornalismo tipo A:

O distinto cónego Melo Peixoto, figura polémica na Igreja, consegue congregar apoios em quase todos os quadrantes; embora haja quem o considere um anti-comunista primário ele não se assume como tal e afirma ter muitos amigos nessa área.

Dotado de uma rara sensibilidade artística e diplomática, com voz melíflua e insinuante, consegue penetrar com facilidade em universos bem díspares como o futebol, os media, os negócios, a gastronomia. Enfim, um polivalente na acepção mais grada do termo.
Embora acusado de calúnias torpes, nunca foi processado e sempre se assumiu como vítima da maledicência e da inveja de alguns sectores da nossa sociedade. Amigo do seu amigo, é capaz de meter cunhas para defender algum autarca, algum empreiteiro, algum jovem ou alguma jovem transviados do bom caminho. Tal como o padre Américo de saudosa memória, para ele não há rapazes maus. Todo o homem é bom por natureza. Há é que saber tocar no seu lado positivo, na sua candura e bondade intrínsecas.

Pedagogo de elevados méritos, salientou-se como ex-combatente, sendo sempre um homem de elevado sentido pátrio, não se coibindo de acções temerárias quando em jogo os princípios que considere sagrados para a sua consciência. Grangeou uma multidão de apoiantes que chegou ao ponto de querer erigir-lhe uma estátua, coisa que feria a sua natural modéstia e foi ostensivamente abandonada. Está perpetuado na cripta do Sameiro ao lado da sua tão querida Nossa Senhora do Sameiro, imagem de rara qualidade artística e alvo da curiosidade geral.

Embora figura polémica e não consensual assume-se como um lutador por causas que considere justas, um combatente da justiça e dos sãos princípios familiares e morais.

Dotado de bom relacionamento a nível empresarial é solicitado para resolver ou amenizar conflitos a nível do poder, saindo-se, frequentemente, muito bem dessas tarefas de elevado melindre. Não se assume como homem de poder, muito embora saiba que o tem, ainda que por interpostas entidades. Ele sabe como poucos esgrimir na arena social com a arma da palavra, com a sua postura serena e tranquila mais própria de um monge.

Assume que já meteu cunhas, sem hipocrisias aceita essa prática como forma de dar satisfação ao dever de amizade, com retribuição de favores recebidos ou como tributo de lealdade para os que lhe são fiéis. Servo da vinha do Senhor, com ironia aceita as críticas, as maledicências e os sarcasmos que atribui ao ódio de inimigos de estimação, pessoas com o carácter inquinado por ideologias dissolventes e atentatórias de Deus, da Pátria e da Família, os três pilares onde assenta a sua rica e contagiante personalidade humanística.


Jornalismo tipo B:


O cónego Melo encerra o que de pior tem a Igreja Católica nos dias de hoje. Ingerência na esfera política, acção intimidatória junto da instância judicial, envolvência nos meandrosos lodosos do dirigismo desportivo. Enfim, depois do que se disse dele no Verão quente de 75, em que Ramiro Moreira, o conhecido bombista, afirmou pública e frontalmente que ele o acompanhava no acto de lançamento dos engenhos explosivos, chegando ao ponto de fazer comentários de satisfação quando ouvia o estampido medonho da bomba, é lícito perguntar:

__ Será que este homem de Deus não tinha consciência de que estava a comprometer com a sua acção leviana e diabólica, a própria Santa Madre Igreja? Ou será que agiu sob a sua autoridade para perpetrar os hediondos actos? Será que beneficiou de protecção especial por isso?

Quando o vemos, aberta e frontalmente, a afrontar a justiça, como o fez no ostensivo apoio ao gerente da Bragaparques, acusado de corrupção activa (processo em curso na comarca de Lisboa) num jantar com ecos televisivos de grande sensacionalismo, será que não vê que poderá ser incómodo para a Igreja esta postura desafiante e pouco ética? Ou agirá a mando da própria Igreja?

Quando o vemos a defender publicamente autarcas envoltos em nuvens de corrupção, mas, verdade se diga, muito empenhados na causa da fé (coisa que não era vulgar antes de serem autarcas... dando a entender que só agem assim na mira de obtenção de apoios dos púlpitos e de absolvições sumárias a troco de fortes e inusitados apoios ao clero e seus agentes), será que o faz de motu próprio ou age concertado com a própria Igreja, numa acção estratégica bem congeminada no sentido de uma aliança de poder puro e duro? Será um ponta-de-lança de um fundamentalismo indígena?!

As interrogações aqui ficam à consideração das pessoas cultas, inteligentes e com sãos princípios éticos e morais. Essas pessoas, sem preconceitos ideológicos, sem grilhões partidários (como o autor destas linhas), devem meditar profundamente sobre a ausência de comentários da hierarquia da Igreja sobre este modus actuandi pouco escrupuloso do seu pastor. Estará a cumprir ordens superiores? Se não, por quê o silêncio cúmplice da hierarquia?


Em abono da verdade, devo frisar aqui o vibrante e enfático apelo feito por Sua Santidade Bento XVI à Igreja portuguesa (coisa nunca vista anteriormente) e que poderá contemplar (não é pacífico nem consensual que assim seja, porque Sua Santidade não foi muito objectivo na crítica...) comportamentos destes que ferem de morte a credibilidade de uma Instituição honrada e que não tem culpa da existência destas excrescências putrefactas e ominosas.


O regime está em decadência e os valores éticos e morais que deveriam nortear a sociedade estão em decadência. Fazer a apologia da cunha é o mais natural hoje em dia.Vimos Ângelo Correia, com desassombro e tranquilidade, fazê-lo. Vemos o cónego Melo gabar-se dessa praxis. Esquecem esses senhores que, para haver um contemplado (quiçá injustamente, mais bafejado pelo apoio do «padrinho» do que pelos seus méritos intrínsecos) poderão existir dezenas de marginalizados, de ostracizados por essa nefasta influência. O benefício de um «ungido pelo padrinho» terá sempre o remorso de ter lançado para o desemprego ou para a valeta do esquecimento dezenas ou centenas de pessoas íntegras, honestas, que ou não querem ou não podem usar a «cunha» como arsenal curricular.


Será que na câmara da Póvoa de Varzim também estão implantados estes valores que o cónego Melo apregoa alto e bom som? Será que há cunhas para ganhar empreitadas, será que há influências para arranjar empregos na autarquia?


Honi soit qui mal y pense!




Jornalismo tipo C:



Leiam por favor a revista Notícias Magazine de 13 de Janeiro de 2008 (nº 819).

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