terça-feira, fevereiro 12, 2008

Magistrados VS Futebol... a velha questão da mulher de César...




O presidente da associação sindical dos juizes portugueses, Dr António Martins, vem, tal como outros já o fizeram noutros contextos, alertar para a necessidade de incluír no Estatuto dos Magistrados Judiciais (em revisão) uma proibição (incompatibilidade) no sentido de evitar a possibilidade de magistrados serem devorados pelo furacão-futebol. O clima que todos sabemos aí se respira é de tal ordem pernicioso que a presença de magistrados poderá ser perniciosa.
Há quem argumente que a presença de magistrados confere outra dignidade e outro saber. Mas, com argumentos não despiciendos, há quem faça análises contrárias.
Ora, na esteira do processo Apito Dourado, há quem dê mais força ao primeiro argumento. A mulher de César vem sempre à baila nestas questões de certo melindre. E há que defender a classe de possíveis ensombramentos resultantes de um fenómeno que alimenta polémicas sem conta, fanatismos doentios, e, onde a isenção é tão pouco frequente.
Neste momento há dois magistrados na comissão disciplinar da Liga (Dr Jacinto Meca e Dr Jorge Santos). Não está em causa a sua probidade, a sua honra ou a sua independência. Mas por medida cautelar a classe deve evitar expor-se num âmbito de alto risco, num contexto altamente efervescente, num clima por vezes alucinante.
Como cidadão fora da esfera judicial, mas atento ao fenómeno justiça, um dos pilares de uma verdadeira democracia, aplaudo incondicionalmente esta iniciativa de alto valor cívico.
Por situação análoga também entendo que deveria haver uma directriz (oriunda da hierarquia da Igreja Católica) no sentido de evitar que padres se envolvam na esfera desportiva ou política.
Porquê?
Porque a clubite aguda e a partidarite estão a minar a credibilidade das instituições, porque há fanatismos tão hipertrofiados que descambam para o descrédito de quem se envolve nestes domínios. Padres (tal como magistrados) devem ser preservados para ostentarem uma imagem de independência e de isenção face a estes fenómenos de quase patologia social.
A bem deles próprios, entenda-se.
Sei bem quanto custa ser isento. Procuro sê-lo, mas, tantas vezes me interrogo se não estarei mais à esquerda ou mais à direita do que seria o ponto de equilíbrio. Admito falhas nesse propósito. Não é fácil sermos totalmente isentos.
Quando se desempenha uma missão como ser magistrado (ou ser padre) aí a importância de ser isento ganha maior relevância e acuidade. Eles estão mais expostos à censura pública.
Dirão alguns que isto é limitar a liberdade. De facto é. E por vezes é preciso limitá-la para autodefesa, para que se possa proteger a Pólis do perigo chamado fanatismo.
Acho que a Igreja deveria fazer uma pastoral para evitar situações caricatas como as que se passam na Madeira. Que moral terão os bispos e/ou padres para criticarem o poder político quando este se torna excessivo e prepotente, quando, por trás da cortina, ele dá mordomias exorbitantes à «corporação clerical»?
Julgo que na Madeira há um caldo de cultura propício para se analisar este fenómeno que tem contornos quase patológicos. Ali, a democracia precisa de uma terapêutica de choque. Não que os magistrados ou padres precisem de electrochoques (longe vá o agoiro...) mas há que reconhecer certas aberrações que radicam precisamente na falta de isenção de magistrados e de padres .
E quantas «Madeiras» não há por este país fora?!

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