domingo, março 23, 2008

Ele foi confessar-se e...



-Padre, com os novos pecados decretados por Bento XVI acho que estou a ser demasiado penalizado...
- Então porquê, meu filho?
- Veja, além das mentiras que disse em campanha eleitoral, prometi tanto que sabia não poder cumprir, usei má-fé e abusei da credulidade alheia, fiz publicidade enganosa, agora, com estes novos pecados, atentados ao ambiente, gestão danosa, promiscuidade, má gestão de dinheiros da colectividade, penso que vou mesmo para o inferno...
-Tem calma, meu filho. És presidente de câmara há tantos anos, nunca te arrependeste dos actos perpetrados, vens agora, de súbito, dar uma de arrependido?
-É claro que em público, nos jornais, na rádio, nunca poderei dizer isto, era o meu fim. Mas aqui, no silêncio do confessionário, não posso deixar de me abrir. Ainda há dias fiz um assédio infame...

- Assédio? Alguma mulher?
-Não, padre, foi a um presidente de junta. Disse-lhe que se ele passasse para o nosso lado teria obras com fartura lá na terra. Até arranjaria emprego para a mulher e para a filha. Sinto que estou a ultrapassar os limites da decência!
-Lá isso estás, mas há tanto quem faça isso. Olha, poderá ser enquadrada essa forma de «assédio» num tipo não pecaminoso...
_ Como assim, padre?!
-Olha, dir-se-ia que estás a captar um crente para a tua fé partidária. É evangelização. É aumentar o número dos teus «crentes»... és uma espécie da apóstolo partidário...
-Olhe, padre, tirou-me um grande peso da consciência. Nessa perspectiva até sou um evangelizador... Vou seguir em frente com esta prática assediadora...

_ Sim, filho, olha mas não abuses. Se ficares com o concelho debaixo da tua pata receio bem que te tornes ainda mais intolerante com a oposição. Deixa alguns ainda a comungarem do seu credo. Há que ter uma coexistência pacífica com todos. Há que ter espírito ecuménico!

__ Olhe padre, essa do espírito ecuménico está modelar! Vou deixar algumas freguesias ainda sob o controlo da oposição. Para se ver a diferença!...


NOTA: Isto é ficção. Mas a realidade, por vezes, ultrapassa tudo isto. E muito!

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