sexta-feira, dezembro 19, 2008

Chamavam-lhe «Profeta da desgraça»....

Eu é que era o «profeta da desgraça», o «pessimista», o «alarmista-mor-do-reino»... mas agora que a desgraça está aí exijo que me peçam desculpas. E digo mais: uma desgraça nunca vem só! Medina Carreira, antigo ministro das Finanças, um provedor dos invisuais da política...

Nós acreditamos na liberdade de mercado, na livre iniciativa, no «laissez faire laissez passer», o Estado está pesado, gordo, ineficaz, eu desmantelá-lo-ei em seis meses! é preciso entregar tudo ao empreendedorismo que nos há-de conduzir ao éden! Esses, desconfiados e velhos do Restelo, que vão para um asilo, que se deixem de pessimismos doentios e desconfianças paranóicas, são uns empatas, uns mesquinhos, uns burocratas ultra-fiscalizadores. Viva a liberdade!


Como cidadão independente limito-me a dar voz às correntes de opinião em cotejo nesta sociedade livre e plural. Ao leitor cabe optar. Este poema resume de forma simples e irónica as duas sensibilidades em confronto durante alguns anos...




ERAM «PROFETAS DA DESGRAÇA!»...


São profetas da desgraça
Diziam à boca cheia
Precisam de uma mordaça
Ou então de uma tareia(1)...


Corrupção vai medrando
Na opacidade laxista
E quem ia criticando
Chamavam de pessimista!


Tantas as cumplicidades
Tantos os proteccionismos
Eram só facilidades
Na teia dos nepotismos!


Os tribunais só puniam
Quem denunciasse o mal
Os corruptos protegiam
Com seu manto paternal.


Foi galinha de ovos de ouro
A banca, esse maná,
Acabou por dar um estouro
Anda tudo ao deus-dará!


Onde está a explicação
Para tanta impunidade?!
Padrinhos em profusão
No lodo-promiscuidade!


No processo eleitoral
Investindo, calculistas,
Impondo gente venal
No topo das várias listas...




(1)- Aqueles que denunciavam escândalos visíveis a olho nu (como Ricardo Bexiga) eram alvo de ataques miseráveis e de safadezas sem conta. Veja-se o caso do Marco de Canavezes onde aquele ornitorrinco ambicioso praticava todas as barbaridades e era uma autêntica enciclopédia do caciquismo... E na Madeira, onde a liberdade existe para uns enriquecerem rápida e gulosamente e para outros serem espezinhados e votados ao ostracismo mais feroz.


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