terça-feira, fevereiro 14, 2017

Entrevista com Deus Baco!




Não tenho preconceitos. Já fui ao céu entrevistar pessoas (almas), porque não ir ao Olimpo? Eu acredito na existência dele. Camões escreveu sobre  os deuses e ainda hoje é venerado numa pátria católica apostólica, romana. Enfim, o olimpo existe nem que seja no nosso imaginário coletivo. Ora, o deus Baco, ainda hoje com tantos cultores, deve ser um bom entrevistado. Não me enganei. Ouçam-no de viva voz: Ele sabe-a toda!

__Então Baco, Vossa Divindade tem muito sucesso aqui no olimpo?
__ Nem queiras acreditar! Tenho sido venerado por todos e por todas as almas aqui gozando do esplendor da luz perpétua! Sou o deus mais popular!
__Mas Júpiter, o deus dos deuses, Marte, o deus da guerra, Vénus, a deusa do amor, são menos populares do que Vossa Divindade?!

__É óbvio que sim! Eu tenho o condão de fazer esquecer e isso é cada vez mais necessário neste nosso universo carregado de maleitas e de más notícias...Alguns dizem que eu sou o deus da alienação, mas eu sinto que sou motivação, sou exaltação, sou plenitude espiritual!
__Na Terra ainda sois venerado e tendes seguidores?!

__ Se tenho, sou usado nos principais eventos, nas festividades mais exaltantes, nas vitórias políticas, nos êxitos desportivos, nos festivais de música, nas festas de aniversário, até nas festas religiosas da Igreja Católica eu sou omnipresente!Festa religiosa sem mim__ seja S~.João, S~. Pedro ou Santo António__não é festa , eu sou a Verdade, o Bem, a Virtude!

__Então eu julgava que hoje em dia  era preciso avivar a memória, que isso era uma forma de identificar e unir os povos em torno dos seus feitos, as famílias em redor dos seus antepassados, mas essa de alienar, esquecer, é muito curiosa...Dantes falava-se em assuntos que relevavam a importância da memória: «A História é a mestra da vida», «povo com memória curta é povo sem carácter», «cesteiro que faz um cesto faz um cento», «todas as causas nas mesmas circunstâncias produzem os mesmos efeitos», «A História repete-se!», enfim, o apelo à memorização era uma virtude, mas agora essa do esquecimento deixa-me de pé atrás...

__Olha, os políticos são especialistas nisso. querem a memória para avivar os seus feitos, as suas obras, os seus momentos grandiosos, mas precisam também de mim para alienar as massas, esquecendo os seus pecados, as suas manobras eleitoralistas, as suas diabruras para enriquecer e sonegar o produto do saque ao erário público com mestria...Coitado do juíz Carlos Alexandre que nunca mais vai descobrir as diabólicas teias dos dinheiros da operação Marquês envolvendo tantos e tão sofisticados trambiqueiros.  Depois, quando acabar o seu  fadário, vai ter de esquecer, de apagar o stress, vai ter de recorrer a mim, para esquecer o trabalho quixotesco em que se envolveu. Um povo com memória curta vai esquecer este homem de honra e  de carácter, certamente, talvez endeuse os  salafrários que levaram Portugal à ruína e ainda se arvoram em vítimas...

__Conheço um  político que está sempre a pedir aos adversários que esqueçam as suas malfeitorias, as suas mentirolas, os seus tiques de soba, de cacique manhoso, mas, pelo contrário, faz um apelo sistemático e já fastidioso,  à memória,  para se endeusar com os seus feitos, as suas grandiosas obras, as suas faiscantes  condecorações, as suas colossais entrevistas...Obrigado Baco, percebi a essência da tua mensagem. Guardá-la-ei na memória! Para sempre! Há coisas que nem Baco faz esquecer!

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