quarta-feira, fevereiro 15, 2017

D. Narciso anda aí !!!!

Ele anda por aí. Sempre com a imodéstia do costume, a linguagem petulante e rebuscada que o tipificam e  lança no ar baforadas de presunção. Ele é o inconfundível D. Narciso. Nasceu na terra X mas agora, na terra Y, já absorveu por osmose as virtualidades das suas gentes e gaba-se da sua coragem e da sua generosidade. Dá-se ares de sábio, um quase-génio, no limiar da  luminária. Não usa gravata, contudo, utiliza palavras engravatadas que busca, com a volúpia de um cão pisteiro, nos escaninhos encardidos da memória. Para impressionar papalvos, para se autoincensar. Sim, ele considera-se  um mestre na sabedoria, na prudência, na coragem. Pela noite fora, já meio alucinado pelos vapores de Baco, para impressionar plateias, começa a telefonar para este e para aquele, dizendo banalidades, com o único fito de chamar a atenção dos presentes para a sua constelação de amizades. Ele é o jogador, X, o treinador Y, o  cineasta  Z, a apresentadora M, o actor  cicrano, o presidente da câmara beltrano..
Enfim, põe-se em bicos de pés e atinge o ridículo com frequência. Liga a fulano  a pedir opinião sobre o título do próximo livro: «que achas, Monte de Vénus será aliciante»?  Cloaca de Pandora, será mais apelativo? Depois, sempre tendo por finalidade última impressionar a plateia, liga ao Zé da Mouca, a perguntar se poderá contar com o seu voto na próxima campanha eleitoral! Para  presidente da câmara, claro. Dentre as suas megalomanias sobressai esta,  di-lo com inusitada frequência! e os amigos galhofam sem que  ele se aperceba do ridículo!

É assim o brejeiro e pitoresco D. Narciso, a figura carismática brejeira e populista. Pertence  àquela esquerda caviar que apregoa certos princípios mas  que pratica precisamente o contrário. Gaba-se de ter isto, ter aquilo, exibe a marca do carro a  toda a gente,  mostra recordações de hotéis que visitou, fotografias de gente da alta, para exibir pedegree, postura de estrela, aura de génio! Estilo "encosta-te às estrelas, serás uma delas"!
Enfim, no  vasto rol dos exibicionismos patetas inclui figuras sonantes da  política, do teatro, da bola, do jornalismo, enfim, o populismo de meia tigela  numa expressão bizarra e sui generis do termo.
Por vezes tem atitudes patéticas. Pendura-se nas instituições como aquelas ervas daninhas ou as trepadeiras que parasitam as árvores de grande porte para melhor sobreviverem e medrarem. Pede aos amigos para lhe comprarem os livros e sugere que metam na contabilidade como despesas disto e daquilo...Diz-se discípulo de Epicuro e exibe a sua moral hedonista baseada no prazer e na farra como metas últimas a atingir  e finalidades vivenciais.  A sua ética é beber e comer..E quando a noite já vai mergulhando na alvorada e o seu espírito vagueia entre os braços de  Baco e o colinho de Morfeu, usa o vozeirão para recitar o seu próprio epitáfio. É elucidativo sobre a essência do seu viver:


EPITÀFIO

«Copos bebeu com fartura
Gajas comeu com prazer
E agora, na sepultura,
Só, sem comer nem beber!»

Todos aplaudem com entusiasmo esta tirada digna de Bocage. e mais uma rodada de  uisque encerra a noitada. Esponja humana, carnes flácidas, banhas abundantes, mas sempre um sorriso maroto a tentar minimizar os danos colaterais de algum piropo excessivo. e gaba-se:«Todos os homens me invejam e todas as mulheres me adoram!» Enfim, o ridículo e o piroso no seu máximo expoente! Procura exibir sempre um denominador, um atributo subjacente ao seu ego de pavão: é famoso!

Enfim, um cromo na plenitude abrangente do termo. Tem uma obsessão; quer que o tenham na conta de macho! Tem complexos e medos que procura colmatar exibindo de forma exaustiva e já fastidiosa jovens  beldades que se julgam promovidas por tal exibição ao lado do cromo da moda. Muito embora diga odiar a pedofilia tem um fraquinho pela corruptofilia. Encosta-se a alguns, na mira de colher dividendos, cobrindo-os de virtualidades, fazendo invocar de forma inusitada a gratidão que nutre por eles. Havendo uma bebida espirituosa à mão, não é parco em elogios, em salamaleques, em discursos absolutórios, em louvaminhas sabujas, em loas grandiloquentes...
Não, não se considera vaidoso, isso são os outros,  os que ele considera invejosos,ele só tem aquela noção exata de autoestima, aquele sentimento de superioridade rácica  que fez dos nazis aquela máquina de triturar seres humanos. Ele, D. Narciso, gosta debater  forte e feio nalguns__às vezes fá-lo a troco de dinheiro,  ou simples sinecuras, já o confessou__ contudo, diz que gosta muito de gente...Cuidado, o que seria se não gostasse...

2 comentários:

Lucinda Duarte disse...

Gostei deste seu post sobre as vaidades atuais de muitos portugueses...

José Leite disse...

De facto este é o típico macho lusitano, de gajas e copos. Depois, com esta mania das grandezas, o que pensarão de nós todos (mesmo os que não têm este tique megalómano) os povos do norte da Europa, mais comedidos e menos esbanjadores...
Nem todos somos Bocages, mas alguns exageram...